CLAUDIA JARDIM
da BBC Brasil, em Caracas
A integração energética será o principal tema da visita que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva faz nesta sexta-feira à Venezuela. No encontro, em Caracas, Lula e o presidente venezuelano, Hugo Chávez, deverão discutir o andamento das negociações entre a Petrobras e a estatal venezuelana PDVSA.
As empresas têm planos para executar dois empreendimentos conjuntos de exploração de petróleo, no Brasil e na Venezuela.
A elaboração dos contratos para constituição de duas empresas conjuntas entre a PDVSA e a Petrobras está em andamento desde fevereiro de 2005.
O processo mais adiantado é o da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, que teve um acordo de associação firmado entre as duas empresas há três meses, durante o encontro dos dois presidentes em Recife.
Ainda falta, porém, a elaboração dos estatutos sociais, o acordo de acionistas e o contrato de compra venda de petróleo.
O assessor da Presidência venezuelana, Maximilien Arvelaiz, disse à BBC Brasil que a tendência das reuniões anteriores deve se repetir nesta sexta-feira.
Segundo Arvelaiz, Chávez e Lula deverão pedir aos presidentes das estatais que acelerem a finalização dos acordos, argumentando que a decisão política deve prevalecer sobre a econômica ou técnica.
"Provavelmente, uma vez mais, a decisão final será tomada pelos presidentes", afirmou Arvelaiz. "A PDVSA e a Petrobras só avançam quando os presidentes lhes puxam as orelhas."
Interferência política
Segundo o economista e analista de petróleo Orlando Ochoa, a interferência política do governo venezuelano é o que poderia estar causando resistências dentro da Petrobras - que, a seu ver, tem uma gestão pragmática - a um acordo de associação com a PDVSA.
"A Petrobras tem uma gestão dirigida ao mercado internacional e a PDVSA ao mercado regional, determinada a atender os interesses geopolíticos do governo. Estas duas concepções se chocam na hora de firmar acordos", disse Ochoa.
O governo da Venezuela, quinto maior exportador mundial de petróleo, tem marcado sua política externa nos últimos anos com a venda de petróleo a preços preferenciais para seus aliados na América do Sul e no Caribe.
A Petrobras já disse estar disposta a desenvolver o projeto de US$ 4,05 bilhões em Pernambuco sozinha. A Abreu e Lima deve começar a operar em 2010, e até 2011 poderá processar 200 mil barris de petróleo pesado por dia.
Orinoco
As discussões sobre o projeto conjunto de exploração e produção de petróleo pesado no campo de Carabobo 1, na faixa petrolífera do Orinoco, na Venezuela, também estão paralisadas.
A Petrobras, que inicialmente exigia 40% da participação acionária, proporcionalmente inversa à prevista para a PDVSA na refinaria Abreu e Lima, agora estuda uma participação de, no máximo, 10% em Carabobo.
Analistas afirmam que o desinteresse da estatal brasileira no campo venezuelano poderia estar relacionado às recentes descobertas dos poços petrolíferos no pré-sal da Bacia de Santos.
Acordos
A visita de Lula à Venezuela não deve durar mais que cinco horas. O presidente chega a Caracas pela manhã e deverá se reunir com Chávez no Palácio de Miraflores.
Lula e Chávez deverão firmar um acordo que prevê a ampliação da rede elétrica que abastece a região Norte do Brasil. O projeto envolve a Eletrobrás e a sua equivalente venezuelana, Edelca.
Outro acordo que poderia sair do papel é a construção de unidades de produção de GNL (Gás Natural Liquefeito), em discussão desde 2005, em parceria entre a PDVSA e a Petrobras.
Também deverão ser discutidos os acordos de integração binacionais e assuntos regionais, como o Conselho de Defesa Sul-americano.
Folha Online
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